3 º Capítulo: Primeiro dia de aula

            Avistei alguns rostos familiares e me enturmei. Eles eram muito divertidos e eu quase não sentia falta da outra escola. De lá, eu só tinha dois amigos: meu ex – que eu espero nunca mais ver – e a Estela – que sempre foi muito legal comigo, mas eu não conseguia confiá–la meus segredos, ela é estranha quando se trata de coisas secretas e eu sempre fui mais isolada, sempre no meu canto. Talvez Maragogi seja muito propício para fazer novos amigos.

            Beatriz me ajudou a encontrar minha sala e me apresentou alguns professores, todos eles são muito hospitaleiros. Meu cronograma mostrava que a primeira aula é de história. Que chato.

Caminhei até a sala e me sentei enquanto ela era preenchida com rostos muitas vezes estranhos. Avistei Lúcia. Ela está na minha turma, isso é ótimo, pois ela pode me atualizar e me ajudar. Eu podia ver que Lúcia seria uma ótima amiga, daquelas que eu gostaria de levar para sempre.

            "Julia, estamos vendo o Descobrimento da América. E como Cristóvão Colombo foi injustiçado." Lúcia disse com uma entonação gigante e entusiasmada, como se ela amasse aquilo que está estudando. Dava para ver que essa era sua matéria preferida.

            "É, sem dúvidas. Foi uma grande injustiça Colombo não ter sido dito o descobridor da América ainda em vida." A respondi com a mesma entonação entusiasmada.

            " Já viu isso antes?" Ela perguntou parecendo surpresa.

            "Sim, estava estudando um pouco, além disso, na outra escola."

O professor entrou na sala e começou a explicação. Hoje eu poderia me perder atrás dos pensamentos, afinal... Eu já tinha visto essa matéria e esse professor é completamente diferente do outro – que por sinal, me odiava.

Lembrei do meu pai e como ele me divertia ensinando tudo isso. Que saudades que eu sinto dele. Miguel – meu pai – foi embora há muito tempo, assim que meu irmão nasceu. Há seis anos. Desde então, parecia haver um vazio em mim há décadas, mesmo sabendo que ele me abandonou. Meu pai. Ele se foi sem ao menos satisfazer nossas perguntas. Sem nem dizer adeus. Minha mãe nunca comenta sobre isso, mas pelas brigas inicias dos dois, eu percebi que poderia haver outra mulher. Todos falavam o contrário, que minha mãe possuía outro homem e meu pai não aguentou a traição... Mas eu sabia a verdade. Até hoje eu oro todas as noites para que Deus o trouxesse de volta. Pelo menos para me dizer adeus e mostrar porque ele nos abandonou. – Senti meus olhos enxerem de lágrimas.

TRIM, TRIM.

            Graças a Deus o sinal tocou. Se eu continuasse a pensar, sabia que todos aqui veriam como eu poderia chorar tão rapidamente e desesperadamente.

            Lúcia me acompanhou e me ajudou em todas as aulas. Eu ainda estava abalada por causa do assunto. Eu sempre ficava assim e por incrível que pareça na outra escola, ninguém nunca percebeu. E hoje, Lúcia me perguntou várias vezes se eu estava bem e porque estava dessa maneira: triste e a ponto de desabar em lágrimas. Eu teria matemática agora, que eu amava, sempre foi minha matéria preferida.

            "Minha próxima aula é de Geografia, então vou por aqui. Tchau Ju! Posso te chamar assim, né?" – Lúcia perguntou com receio.

            "CLARO LÚ!" – Dei uma piscadela. – "Obrigada!"

Assim seguiu todas as minhas aulas, em algumas encontrei rostos conhecidos como do Artur, Giovana e Eduardo. O intervalo foi descontraído e rápido e fui apresentada para mais pessoas de diversificadas idades. A única pessoa que não me agradou foi Cecília. Ela era a garota mais popular do Colégio, mas não parecia ser metida, porém ela não gostou de mim. Eu sempre soube perceber isso. Pelo seu modo de me olhar, de mexer a boca e as mãos e também os tipos de palavras que ela utilizou. Como “queridinha”, incluindo palavras de deboche. Eu deixaria isso de lado, não é uma menina qualquer que estragaria como eu estava feliz por todos eles, excluindo ela, terem gostado de mim. 

            Voltei para casa com o Rafael, e contamos tudo sobre o que havia acontecido. Estava agradecida por ele ter gostado da sua turma. Preparei algo para nosso almoço e assistimos a um filme... Ele dormiu.

            Passei metade da minha tarde comendo e assistindo comédias. Antigamente romances eram meus tipos preferidos de filmes, porém depois do que meu ex fez, eu não consegui engolir essas histórias de felizes para sempre. Eu sei que um dia encontrarei o amor da minha vida, mas por enquanto melhor não tentar. Será que eu já conheci a pessoa certa? Um dia eu saberei, pois esse alguém não irá me enganar e eu serei feliz. Sem mágoas e sem ressentimentos, apenas com um amor tão grande que será capaz de tudo.

Trindom, trindom.

            A campainha. Não acredito. Só não estou mais irritada porque ela me fez sair desses pensamentos de o grande amor da vida e tudo mais. Eu odeio abrir a porta e não saber quem estava do outro lado. Mostra-me um aspecto de insegurança.

            "Boa tarde, senhorita Júlia Stoni, por favor?" – Ele era o carteiro mais jovem que eu já vi. Ele até era bonitinho e me olhava engraçado, seus olhos eram de um azul marinho lindo. Gostei do seu jeito, poderia até dizer que ele podia ser a minha metade.

           

"Sou eu mesma."

            Que ótimo, uma carta para mim. – Pensei

            "Assine aqui, por favor?" – Sua voz foi sumindo de acordo com meus pensamentos.

            Só poderia ser daquele idiota do Bruno, meu ex, por eu não ter atendido e nem retornado suas ligações, e por tê–lo deletado de todas as minhas redes sociais.

            "Ei!" O carteiro me chamou impaciente.

            "Desculpa, o que você disse?" – Fiquei envergonhada por ter sido tão desligada.

            "Assine aqui."

            Eu assinei e o agradeci com um sorriso educado. Estranhamente, não possuía remetente. Como uma carta dessas pôde chegar até mim? E Quem em si consciência a mandaria sem dizer de quem é?

           

            Não acredito, deve ser só uma brincadeirinha idiota, do Bruno. Claro. – Revirei os olhos e a joguei em cima da mesa. Eu tinha coisas mais importantes a fazer.