terça-feira, 9 de agosto de 2011

5º Capítulo: Família Stoni


Não acredito, estou atrasada e em pleno segundo dia de aula. Tomei café correndo e fui para o carro com a minha mãe. Eu sentia que estava esquecendo alguma coisa, mas o que? A ida para a escola foi preocupante. Quase nunca ficávamos sem trocar uma palavra se quer por mais de cinco minutos, e hoje, se passou até mais e não dissemos nada. Minha mãe parecia preocupada, talvez algo do trabalho. Ou talvez não.

            Quando cheguei na escola a maioria dos alunos ainda estavam enrolando no pátio. Ótimo. Cheguei perto da minha turma e fui para a aula com Lúcia.

Aula de Educação Física. Jogamos vôlei. Aula de Matemática: Trigonometria. Isso me lembrou da Estela com sua piadinha: "Porque a matemática é virgem? R.: Porque o trigo–não–metia!" Eu sorri sozinha. As aulas passaram e eu já estava em casa com meu irmão. Almoçamos e esperamos nossa mãe em meu quarto, contamos sobre nosso dia.

            Eu lembrei o que eu estava esquecendo, precisava perguntar para minha mãe sobre a Carta, ou as Cartas que estavam me assombrando. Eu sinceramente não queria tocar mais nesse assunto, gostaria de esquecer e poder tornar minha vida normal novamente e vive-la do mesmo modo. Mas eu continuava com aquele sentimento estranho. Como se aquela carta pudesse me mostrar um caminho, uma vida, uma história... E que ela poderia me trazer felicidade. Eu estou estranhamente me sentindo maluca.

Toc, Toc.

            "Pode entrar." – Tirei os fones de ouvido.
           
            "Adivinha o que eu tenho aqui?" – Minha mãe disse animada.

            "Doce, pizza, marshmallow, coca, nutella ou brigadeiro? Ou todos?" – Disse com uma animação ainda maior.

            "Nenhum deles, uma carta." – Ela me olhou com decepção entoando em seu rosto e ao mesmo tempo surpresa.

            "Mãe, isso era a pior coisa que poderia me falar." – Recoloquei um dos fones e a decepção era visível em minha voz.

            "Tá bom, então eu acho que agora posso jogar no lixo a carta que você recebeu ontem."

            "A SENHORA ESTAVA COM A MINHA CARTA? NÃO ACREDITO COMO NÃO ME DISSE?" – Minha voz soava como uma obrigação que ela havia esquecido. Como se fosse caso de vida ou morte.

            "Calma, você não me deu tempo para explicar e tem outras coisas que você precisa saber. Vamos descer."

***

            "Eu preciso lhe contar algo sobre a nossa família." – Minha mãe disse sentando no sofá e me guiando pela mão até a poltrona.

            Ela olhou para mim e eu não respondi. Ela prosseguiu:

            "Eu nunca achei que teria que lhe contar sobre isso."
           
            Ela olhou para mim novamente. A única coisa que eu pensava era no meu pai, mas talvez eu não pudesse estar mais errada. O que era tão ruim para que ela não quisesse me contar?

"Bom, você sabe que eu comprei essa casa de um tio seu. Não sabe?"

            Acenei com a cabeça. Tivemos essa conversa ontem, talvez ela quisesse falar que meu tio quer a casa de volta. Isso seria ótimo. Ela prosseguiu

"Há muito tempo, por volta da década de 80, houve um terrível acidente nessa casa, um incêndio. Havia um garoto de mais ou menos sua idade e ele não conseguiu sair."

            Eu olhei pasma, eu morria de medo de fogo, minha mãe sabia então como ela está me contando uma história de um garoto que morreu aqui? E assim? E não é querendo ser chata, mas o que essa história tem haver comigo?

            "Ele não conseguiu sair." – Minha mãe fitou o chão e parecia estar claramente chocada.

            “Sim mãe, e ele morreu. Morreu da única maneira que eu não gostaria de morrer.” - Eu disse tentando clarear as coisas na minha mente. Continuei:

            “E mãe, não é querendo ser chata ou mal educada. Eu amo as historias de família, mas... O que isso tem haver comigo?” – Eu disse me aproximando dela.

“Ele não conseguiu sair.” – Minha mãe pronunciou cada palavra separadamente, dando ênfase principalmente no ‘sair’. Ela me olhou.

“Sim mãe, eu sinto muito se ele não conseguiu sair. Mas, eu sei que você não tem nada haver com isso. Na década de 80, nenhuma de nós tinha nascido.” – Eu disse tentando acalmá-la. Nem eu mesma sabia do que.

“Ele não faz parte da sua família. Na verdade, ele é um primo, mas...” – Ela se interrompeu, parecia que ela estava escolhendo as palavras.

“Mas? É? Ele morreu mãe.”

            “Ele na verdade, era um garoto normal, ele faz parte da família, por consideração. Todos se afastavam dele. Achavam que ele era um monstro.” – Minha mãe pausou e suspirou. Novamente continuou. – “A avó da sua tataravó talvez, o adotou. Ele é incomum.”

            “É? Mãe, porque você continua com essa historia de falar que ele é?” – Eu disse parecendo assustada. Ela percebeu, pois seu olhar mostrava que agora ela diria.

“Ele não conseguiu sair. E nunca conseguirá.” – Ela me olhou e eu retribui.

Por um momento eu consegui pensar e as únicas palavras que pronunciei foi:

            "ELE CONTINUA AQUI?" – Comecei a rir, nunca acreditei nessas coisas, era apenas folclore. E um bobo folclore.

            "Por favor, Ju pare de rir. Ele está aqui e pode estar te ouvindo. Deixe-me lhe explicar melhor: esse garoto, segundo livros históricos da família, não era normal... Digo não como nós. Ele possuía algumas coisas especiais, como poderes.” – Minha mãe me olhava com precaução.

            Ok, agora já é de mais.

            "E diz a lenda que depois do dia em que esse garoto morreu, todas as pessoas como ele foram extintos, pois ele era o único até a época. Por isso foi concedido à ele ficar no lugar em que morreu para poder proteger quem ele quisesse e que vivesse aqui. Foi concedido também um desejo."

            "Espera um pouco? Tem um fantasma aqui? E que desejo foi esse? Eu ainda não entendo o que eu tenho haver com todas essas histórias?" – Minha voz soava como uma mistura de preocupação, medo e deboche.

            "Ninguém sabe qual foi o desejo, nem se é verdade... Eu sempre pensei que fosse só uma lenda. Só que depois que eu vi essa carta..." – Suas palavras foram sumindo gradativamente.

            "O que tem nela?" – Perguntei surpresa

            "Vê se você enxerga alguma coisa."

            Eu estava preocupada, ou não. Se minha mãe me mandou ver se enxergava algo, significa que não tem nada lá. Eu a abri, mas para minha surpresa, estava cheia de letras e a escrita era a mesma:

            Bonita, itálica e bem caligrifada. A única diferença é que no verso estava:

Para Júlia Stoni, 2011

            "Tem mãe, tá cheio de coisas escritas aqui" – Eu já estava desesperada.

"Tem mais uma coisa: diz a lenda, que só o protegido, conseguirá ler o que seu protetor lhe enviar."

Um comentário:

  1. uuuuu
    protegido e portetor?
    ah ti coisa linda!!
    a mae ta desesperada.
    na boa: se alguem que morreu nas chamas estivesse me mandando cartas magicas eu ia CORRER MUITOOOOO
    medooo

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