sexta-feira, 12 de agosto de 2011

6º capítulo: Protetor


            A semana passou muito rápida e eu só percebi que tinha chegado ao fim quando acordei no sábado. Eu estava esquecendo-me dessas cartas. Quando eu vi todas aquelas letras com uma caligrafia esbanjando perfeição, acabei dizendo pra minha mãe que precisava de um tempo para ler, pois eu estava completamente em êxtase. A carta continua em minha escrivaninha: parada, completamente tampada por trabalhos e lições. Perdida. Não somente fisicamente, como também em meus pensamentos. Decidi viver sem preocupação com essas cartas, pois se eu não ligasse isso acabaria logo, se já não acabou.
           
Os dias passaram as semanas também e eu já estava a um mês naquela casa. Não havia cartas e eu estava chegando à conclusão de que era uma brincadeira de alguém que conhecia a história da família, e não é muito difícil. Alguém, que sabe que eu poderia ser a protegida segunda a lenda. Havia muitas pessoas da família que odiava não poder ficar com a casa, porque como minha mãe disse, ocorreu àquele terrível incêndio, então... A casa possuiu pelo menos um século. Uma relíquia.

É domingo, e eu tinha combinado com a Lúcia para nós passearmos pelos bares da orla, saboreando os petiscos e uma boa água de coco. Tenho certeza que será um ótimo dia.

Trindom, Trindom.

            "Bom dia, senhorita Julia Stoni, por favor?" – Era outro carteiro, agora uma mulher.

            "Sou eu mesma." – Respondi com uma aspereza desnecessária.

                        Uma carta para mim, da última vez isso não foi legal.

            "Assine aqui querida." – Ela apontou

            "Prontinho, obrigada!" – Dei um sorrisinho simpático tentando me desculpar ter sido tão grossa.

            Essa carta possui algo diferente. Remetente. Isso não me aliviou, pois era um remetente totalmente estranho e parecia em código. Parecia à mesma letra, a mesma caligrafia. Porém, o grande tempo que eu estive sem vê-la a tornou uma imagem nebulosa e sem nexo e eu não sei dizer se corresponde à mesma:

De G. Stoni
Para Julia Stoni

            "Deve ser algum primo distante." – Resmunguei comigo mesma e comecei a abri-la, imediatamente lendo.

"Julia, você saberá quem eu sou, abra a outra carta. Por favor, eu só quero te proteger, só isso. Você é minha agora. Quer dizer, eu preciso de você. Não, eu preciso que você esteja salva. Escute-me. Eu só estou aqui para te proteger, e se você não quiser, grite agora: VÁ EMBORA! E eu nunca mais te darei noticias, nem de sua vida, nem de mim."

            Eu não tive reação e quando pensei em gritar e acabar com tudo isso, a única coisa que pude pensar e dizer foi:

            "FICA, FICA COMIGO!" – Eu gritei desesperada

            O QUE EU ACABEI DE DIZER? As palavras saíram como uma onda de emoções que eu jamais senti antes.

"Talvez você não me queira mais aqui, mas mesmo assim, você tem que saber. Tome cuidado, hoje na volta de seu passeio haverá um acidente. Eu não quero que nada te machuque. Se eu pudesse estaria lá com você.
Mas, já que não estou PROTEJA-SE! E da melhor maneira é estando em casa, ao longo de toda essa noite. Lembre-se sempre : Eu estou aqui quando quiser."

            Uma lágrima caiu do meu olho. Eu nunca achei que um dia alguém faria isso por mim, será que eu estou ficando maluca? Como alguém pode viver tanto em função de alguém? Segundo a lenda ele pode. Mas essa lenda é real? Eu não posso acreditar.

            Resolvi ler a outra carta, ele merece isso. O meu protetor, ou não sei o que, merece isso. Afinal, essa carta provavelmente irá esclarecer as coisas entre nós.

"Olá, seja bem vinda Julia. Espero que você já conheça a história. Se não, não posso lhe contar agora. Saiba que eu sempre estarei com você, que eu sempre a protegerei. Darei a minha existência se for preciso."

            As lagrimas caiam de repente. Começando tranqüilas, lavando todo o meu rosto. Depois começaram a ficar mais urgentes, como uma chuva de verão. A única diferença é que ela não parecia que iria parar tão rápido.

"Não fuja, eu sempre estarei aqui. Eu serei seu amigo, para lhe escutar. Eu serei seu pai, para te proteger. Eu serei seu irmão, quando você precisar chorar. Eu serei até mais, se você quiser."

            Todas as lágrimas caíam sem parar e minha visão não agüentava. Eu somente sabia que eu queria estar com ele e ele queria estar comigo. Então nossa relação poderia ser tão produtiva e tão amigável que eu me arrependeria sempre por quere-lo longe de mim.

            "Obrigada!" – Foi à única coisa que eu consegui dizer.

            Eu limpei as lágrimas e continuei

            "Desculpe-me por não ter acreditado em você, e eu nunca irei lhe abandonar. Mas eu tenho que viver, estou indo para a orla com a Lúcia. Até mais. Cuidarei de mim e se cuide!"

            Passeamos tranqüilas pela noite de Maragogi. Realmente, é muito agradável. Comemos petiscos e conversamos sobre quase tudo – tirando o meu protetor. A única certeza que eu tinha, é que ele estaria comigo de alguma maneira e que ele está aqui.

Lucia pegou um ônibus e eu decidi caminhar, pois minha casa era próxima de onde estávamos. No caminho, eu estava andando rapidamente para não pensar muito em meu protetor e no acidente que ele havia comentado.
Parei e esperei o sinal fechar, eu estava preste a atravessar quando vi uma borboleta, ela era linda e a mais bela que eu já havia visto. Ela posou em uma flor e eu não atravessei, o sinal abriu e eu estava a apreciando. Ela voou procurando a liberdade. Eu me virei e quando fui atravessar, um caminhão bateu em outro, há pouco mais de um metro de mim. Eu entrei em pânico e a ponto de desmaiar. Ele me avisou, ele me protegeu. E por pouco eu não estava ali no meio dos dois caminhões, esmagada. Quem sabe até morta.

"PROTETOR" – Foi à única coisa que veio em minha mente antes de tudo escurecer.

Um comentário:

  1. poderei ser até mais se você quiser?
    hum, já tou até vendo o protetor do além apaixonado pela julia.
    optima ideia ficar no sinal olhando borboleta depois de terem avisado ela QUE IA HAVER UM ACIDENTE!!!
    afff

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