terça-feira, 24 de abril de 2012

10º Capítulo: Nova protetora, novo protegido


Acordei. Abri os olhos. É hoje. Hoje? É como se eu estivesse renascendo, renascendo para meu pai. Ele está de volta e isso é meio inacreditável. Depois desses anos todos me convencendo de que ele se foi e que não voltaria, sua chegada acabou desmoronando todas as minhas certezas. Eu sei que estou muito feliz, como não estaria? Meu pai, aquele que sempre me acolheu e me protegeu estava comigo novamente e eu espero que isso não acabe, mas e se acabar? Balancei a cabeça na esperança de que isso fizesse meus pensamentos desaparecerem. Melhor não pensar no que aconteceu ou irá acontecer, vamos viver o aqui e o agora, não é mesmo?

Coloquei meu vestido de babado rendado e minha sapatilha. Passei o delineador no espelho e olhando para mim mesma disse: “Agora é a hora.”

Desci com um sorriso enorme no rosto e esperei que a expressão no rosto da minha mãe não estivesse muito diferente da minha. Ela parecia ter mudado desde a noite passada. Talvez ela tenha pensado bem e finalmente percebeu que o amor da sua vida estava de volta. Mas quando localizei seus olhos pude ver que havia olheiras. Ela não tinha dormido direito.

“Você vai encontrá-lo daqui a pouco, né?” - Ela mencionou depois de uma pequena conversa de como foi a nossa noite. Ela insistiu em dizer que a dela foi ótima.

“Quem? Meu pai?” - Eu disse como se não houvesse anormalidade nessa situação.

“Sim, ah...” - Ela mesma se interrompeu.

“Pode dizer mãe. Sério. Eu estou feliz demais por ele estar aqui, eu só queria que sentisse o mesmo.” - Eu a olhei no fundo dos olhos e depois de uma breve pausa, ela desviou.

”Quem disse que eu não estou feliz?” - Ela virou para pegar o café na pia.

“Eu vejo mãe. No seu rosto e inclusive nas olheiras.” – Apontei para elas e minha mãe olhou para mim, dando um sorriso.

“Ah, isso não é nada é só que...” - Ela se interrompeu e com o olhar eu a encorajei a continuar. “Bom, eu só estive pensando: Será que ele veio para ficar? Eu não posso dizer que não é isso que eu quero, pois estaria mentindo. É claro que eu quero. É tudo o que eu sempre quis. Eu só estou tentando não pensar muito nisso, porque quando ele me desapontar, o tombo não será tão grande e... eu não serei tão desapontada!”

“Mãe...” - Eu não tive coragem de terminar. O que ela sentia, eu também sentia. Levantei e a abracei. “Eu também tenho medo, mãe. Eu acordei pensando em como eu me sentiria se ele fosse embora novamente. Eu demorei tanto tempo para tirar da minha cabeça que ele voltaria e quando eu finalmente sei que isso é a verdade, ele reaparece do nada e faz com que tudo, exatamente tudo, mude. Mas se eu não estiver junto dele, nunca saberei se ele vai ficar comigo ou com nós. E se você não tentar, não conseguirá reconquistá-lo. Ninguém consegue viver de coisas que acreditam estar solucionadas, nem de atitudes que guardam pra si. Por isso, mude seus pensamentos, viva e faça tudo àquilo que achar necessário.”

Quem diria? Eu, Julia, dando conselhos para alguém tão especial quanto minha mãe. Está certo que eu falei coisas que nem eu mesma sinto, mas se for pra fazê-la mais confiante, assim o farei.

“Está bem.” – Foi à única coisa que ela disse após dar-me um beijo na testa e dizer para eu me cuidar no caminho até o Shopping.

A caminhada foi longa, mais longa do que o habitual. Era estranho, afinal... Eu estou totalmente ansiosa para vê-lo. De repente, algo que não me parecia mais familiar veio a minha mente. Eu estou muito ocupada ultimamente e parece que isso ajudou a esquecê-lo, pelo menos temporariamente. Gabriel está sumido, meu pai voltou. Porque nós não podemos ter tudo o que amamos ao mesmo tempo? Porque nunca podemos ser felizes por completo? Eu tive que parar minha linha de pensamentos por aqui, pois ali estava eu: na frente da porta do Shopping.

Entrei rapidamente e fui em direção à praça de alimentação, onde combinamos o encontro. Rodei meus olhos em torno do lugar. Não era muito grande, mas o suficiente para não encontrar alguém. Por sorte, o lugar estava vazio e encontrar meu pai não foi difícil. Parei por alguns instantes e o observei de longe, mas quando vi, já estava me jogando em seus braços.

O abraço dele era quente, carinhoso e cheio de amor. Eu não me lembrava como era sentir o calor de seus braços envoltos em mim. Era como se tudo o que eu sempre quis estivesse ali, como se ele pudesse defender-me de tudo e qualquer coisa que ousasse me magoar. Naquele momento, era como se nada tivesse mudado, como se ele nunca tivesse partido, como se nunca fosse mudar.

Meu pai me soltou e então percebi que não estávamos sozinhos.

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